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Thick As a Brick

Depois de encarar o vento frio e as portas fechadas das gravadoras e da imprensa, Ian consegue uma agência que os apoie. Não é uma brastemp, mas ele quer a estrada e tem todo aquele ambiente folclórico da Escócia que volta aos poucos à sua mente, as histórias fantásticas, faunos, florestas e duendes. Como trocam de nome a cada show, alguém do escritório sugere o nome de um agricultor inglês do século 18, conhecido por suas esculturas em madeira, ninguém se incomoda? Ian acha divertida a idéia. Por quê não?
Ian que sustentara a banda trabalhando como faxineiro em um cinema quase foi expulso quando trouxe uma flauta antes da turnée. Era mais fácil transportar, ele dizia. Queriam bater nele. Uma banda de rock e de blues nunca teve flauta. Mas passariam a ter, depois dele. Ouve o jazz de Roland Kirk que vira sua nova paixão, lhe inspira a ser emocionante, a criar, a ser melhor.
Pouco a pouco o underground londrino descobre o impacto da nova sonoridade. Não tarda e vai alcançar o primeiro lugar nas vendas, ele diz.
Na efervescência daquele antológico verão de 68, o planeta finalmente conhece o Jethro Tull, que explode tocando para 80 mil pessoas no Festival de jazz e blues de Salisbury. Quando a mídia especializada se recupera do susto e reconhece o fenômeno já era tarde demais, Ian Anderson carrega ódio e desprezo pela imprensa "que vem para tomar cerveja de graça" . O primeiro LP (disco em vinil Long Play) This Was é o fenômeno. Disco de Ouro, 1º lugar nas paradas da Inglaterra. O grupo certo na hora certa. Rock com blues, com o folk escocês, o jazz, o clássico e até a pauleira dos heavy. É a agitação da época.
Vem então os sucessos Living in The Past, Sweet Dream, Witches's Promise. O 2º LP Stand Up dsta vez é calorosamente recebido pela imprensa.
Eles preferem excursionar pela Europa e Inglaterra com Jimi Hendrix. Nos Estados Unidos nada mais in do que aqueles sons europeus, nórdicos, célticos.
Disco de ouro agora na América com Aqualung, dizem que é sua obra prima. Suas atenções ao público americano deixa a platéia inglesa enciumada. Com tanto sucesso os velhos amigos voltam. Aqueles que fugiram da fome e do frio.O grande duende não liga. Mas dá as regras do jogo: muito trabalho, nada de drogas, nem farras. bate forte nos Stones e bandas como Led Zéppeling. O Jethro Tull é como servir o exército.
A imprensa de fato nunca gostou daquela figura bizarra que parece um mendigo. Mas nos palcos ele é eletrizante e as platéias ficam enfeitiçadas. Poderes próprios de um personagem que se cerca de faunos, elfos e gnomos rockeiros. Vem Thick As a Brick. É sua auto biografia não declarada. A história de alguém que é precoce, se interessa e também é obrigado a transceder os limites de sua idade. é um mosaico das manias, dos sons, da alma e do temperamento britânico.

O temperamento louco de Ian em seu turbilhão criativo entra em choques cada vez mais frequentes com a imprensa, a quem detestava por uma conta aberta no passado. O resultado é que o desgaste é grande dentro e fora do grupo. Mal na Inglaterra, Passion Play é outro disco de ouro nos Estados Unidos. Guerra declarada, o escritório Ellis-Wright, leia-se futura gravadora Chrysalis declara que "devido a abusos e injustiças da imprensa, o Jethro Tull pretende se retirar dos palcos por tempo indeterminado".
Nova batalha, novas estratégias, novas armas. A gravadora queria apenas poupar o lançamento do novo trabalho, isto antes de Ian ser trucidado vivo.
Ian não facilita:"tentei ficar parado , não consigo parar de trabalhar...tentei , meu cérebro precisa se expandir...tentei ficar dois dias sem fazer nada, quase enlouqueci...meu trabalho é complexo, não é a mesma coisa rala que existe por aí, exige atenção maior... Acredito que a música deva exigir de quem ouve o mesmo esforço, o mesmo grão de sofrimento, a mesma atenção dada por quem a compôs, não quero fazer música repetitiva, banal... Creio que a imprensa não tem nível mental para entender minha música. é um jogo desigual, eles deveriam se limitar a mostrar os fatos..."
War child é até um nome sugestivo para estas circunstancias beligerantes entre Ian e a imprensa agora européia. As cançõe são simples, cristalinas e belas, diz parte da imprensa, como antes, em Bennefit e Aqualung, é a cutucada.
e Ian que sempre responde diz que fez assim porque quis.
Não importa, os fãns são ardorosos e estão esperando. Novas turnées, na América estádios com os 92 mil lugares que contrastam novamente com o doido Ian.
nada de drogas, mas faz agora concessão ao cigarro. às vezes até uma cerveja. muito discretamente pode ser visto com uma garota. mas ninguém se droga na sua frente.
ele fala no assunto Ian. está milionário, mora em hotéis e tudo que tem cabe em suas duas grandes malas surradas. ao contrário dos mega astros do rock, nada de carro esport, roupas caras e limosines. tem uma moto. não é extravante com gastos. não gosta de aparentar. está feliz de ser um músico e leva isto a sério.
"fico doente de ver aquela gente toda na praia em Monte Carlo sem fazer nada. eu me orgulho de trabalhar em música todo o dia, o dia todo. quero justificar o que diz o meu passaporte. profissão: músico."
Esta mudado. sente cansaço ao fim dos vinte anos. já se deixa fotografar de jeans e camiseta. clássico. o disco que parece seu epitáfio vem em 76.
Too Old To Rock 'n Roll...TooYoung To Die. velho demais para o rock'n roll...jovem demais para morrer.
ele desconversa, diz que está cheio de energia, muito a fim de andar de moto e paquerar as garotas.
mentira do músico profissional. na verdade ele casa com sua produtora de palco e está é cheio das superproduções que tomaram conta do rock. "vou abandonar tudo isto e em breve todos vão abandonar também. é tão falso, não tem nada a ver com a época em que vivemos, uma época de crise..."Ian que sempre olha para todos os lados e para o futuro. grupos como o Jetthro Tull, Yes e Pink Floyd se cansaram do esquema comercial e partiram para o progressivo. ele passou os anos todos do temporal falando em Deus e diabo. na morte e da vida mundana das pessoas da velh aInglaterra.
a propósito Ian, se o Tull acabasse qual seria o epitáfio mesmo?
"um punhado de caras estranhos, um grupo que nunca deixou uma platéia insatisfeita".

não é decerto tudo a dizer deles. havia um som muito, muito próprio. exclusivo. gaitas de fole, um catecismo discarado, contos de fadas, elfos, anões e menestréis feudais , brigas homéricas com a imprensa, muitos amigos e ex-amigos, Martin Barre seu parceiro e guitarrista de jornada. a América e a Europa aos seus pés. mas essa não foi a definição escolhida por ele. então, melhor não atiçar o duende.

numa edição de segunda feira, 11/04/2005 de Zero Hora, consta que o sessentão lider dos Tull se apresenta em Porto Alegre com uma orquetra. uma volta aos fins dos anos 60.
ironiza."prefiro uma simpática síntese de guitarra, piano e percussão, bateria e baixo com instrumentos tradicionais de orquestra. é um repertório em que os músicos podem sair do show com os ouvidos e a dignidade intactos."
com a indefectível flauta na mão, uma bandana na cabeça, subiu ao palco para as alinhadas cadeiras de veludo do imponente teatro do SESI ao preço módico de R$ 150,00.
nada mau para quem desceu da Escócia à procura de diversão.

Comentários

Anônimo disse…
Olá!
Eu fiquei sabendo mais coisas sobre o Ian sim, depois q vi meus amigos loucos pq ele tava em Poa... Interessante a história dele, realmente conhecia mto pouco sobre ele...Flauta? que original hein! hehehe
Ah, vale a pena mesmo escrever sobre o Fórum Social... Espero ainda um dia ter oportunidade de participar, e daí ver se é válido mesmo...De qq forma, só a proposta de realização do Fórum Social já é uma atitude louvável. Vc participou, não é mesmo? Admirei seu trabalho, andei dando uma conferida inclusive na sua página "Sentindo na Pele". Atitude louvável tb é a sua, de participar desses projetos sociais como o de inclusão de deficientes nas escolas. Vai em frente, o País precisa de pessoas como vc. Eu apoio!
Ah, um liquificador chamado Natália...adorei isso! hehehehe
Até.

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