Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2005
 
estava estirado na poltrona ordinária do cinema em Copacabana pela sexta vez. tinha chegado cedo e via as figuras que passavam de um lado a outro. alguns conversavam baixo tranqüilos. a outros o lanterninha se limitava a apontar um lugar vago assim que chegavam. o cheiro inconfundível de maconha invadiu a sala no inicio do documentário de Janis Joplin. talvez ela dissesse que seria o ar mais apropriado. gostava particularmente de duas cenas. quando entrava no palco do festival de Monterey Pop num vestido curto, lamê solto ao corpo, mules saltinho fino, uma vasta cabeleira e o vento descobrindo o rosto. sittin down by my window, honey/lookin out at the rain/ something come along, grabbed a hold of me/ Ball and Chain é uma performance visceral, violenta. lhe transforma em instantes. deixa amostra a alma nua. ocupa aquele espaço em que toda vida cabe. treme, geme, grita, urra, bate os pés. é única e está envolvida pela serpente que veio lhe redimir dos pecados. era a maçã, a oferenda
 
Yeah, I’m gonna try – Yeah / Just a little bit harder minha segunda cena não era propriamente a performance extravagante e louca que se podia esperar de Janis . deixava o seu recado, o testemunho de uma alma que colhera infindáveis escoriações, arranhões, quedas e tropeços na vida de princesa que nunca haveria de ser. rejeitada e excluída da própria comunidade, diluiu suas mágoas em burbom barato e destilou suas desilusões nos tons de uma poderosa garganta - assim ao natural, imitando o que gostava de ouvir. “quando as coisas estão realmente difíceis e não há ninguém a lhe estender a mão, ninguém que lhe espere em casa, você querendo apenas se sentir mais leve, libertando a mente, o coração...sabe do que você precisa ... você precisa apenas de uma mãe carinhosa..." Try, try, try/ just a little bit harder/ So I can love, love,love, you/ I tell myself-well, I’m gonna try – yeah/ Just a little bit harder/ So I won’t lose, lose you/ to nobody else/
 

aí alguém lhe falou sobre Leadbelly e o blues

tentar encontrar um saída foi tudo o que essa capricorniana nascida Janis Lyn Joplin em 19 de janeiro de 1943 em Port Arthur/Texas buscava. queria a paz de casa novamente. menina tímida e obediente. cantora folk aos 16 anos. cabelos loiros quase brancos, aluna dedicada. a filha exemplar da classe média texana nunca encontrou seu caminho de volta. se não podia ser uma bela texana seria então mais um dos rapazes. eles podiam beber, sair de carro, jogar sinuca, tocar e cantar nas praias do rio Neches até a madrugada. não chateava. podiam fazer qualquer coisa na frente dela. não ligava. riam de seus palavrões e aquele jeitão. no fim dos 50’s quando o rock and roll era morimbundo os garotos escutavam jazz e folk . aí alguém lhe falou sobre Leadbelly e de um blues em tintas country . esta ponte era o acesso que lhe faltava e é para onde correriam suas emoções desafogando a alma turva alguns poucos anos depois. feia, bebendo muito, sem modos. não havia nada de elegante nela que andav
ela canta como Bessie Smith e canta totalmente diferente

Alma beat

os pais pressentem que se tem alguma chance estão fora dali. juntam as economias e mandam Janis conhecer Los Angeles onde faz um curso de verão. acaba em Venice , o miserável bairro dos beatniks em Nort Beach. o reduto derradeiro da beat generation . dos escritores malditos da América que elegeram o realismo como tema e a vida errante como lema. a estrada é a morada dos espíritos devassos carregada de relatos de fracassos de onde Charles Bukowski resgata a esperança da dignidade humana. por arte ou por puro heroismo literário. qualquer quartinho ao lado também tem o endereço errante de Allan Bourrogs . já lera sobre Jack Kerouac no Time, autor da antológica On The Road. é com eles que Janis se identifica, mas ninguém liga. o ambiente é freak . aprendeu a tomar bolinhas e a se aplicar. aprende a ganhar a vida cantando blues em Austin . conhece a heroína em Nova York. começa a traficar drogas em San Francisco. as coisas estão fugindo ao controle. “eu só queria ser uma pessoa comum.
Janis e a Big Brother & Holding Company

rendas, flores e colares

todo o pessoal da banda vai morar na comunidade rural de Laguanitas . é lá que Janis descobre que não precisa ser a boa texana para ser aceita. as garotas lhe ensinam como se vestir. elas usam rendas, flores, colares, cabelos soltos e perfume patchuli . era fácil. foi natural. Janis aprendeu o que fazer para ser compreendida mas não como ser amada. todos tinham seus pares. menos Janis . era quem transava todos. porque ela era totalmente livre. isto é, não tinha ninguém. a liberdade era a outra face da solidão de Janis. para estancar suas antigas feridas até que suporta o combate um tempo mas cai diante de outro velho demônio: o álcool, que lhe ajuda a só esquecer. depois vem as anfetaminas e enfim a heroína . é assim que ela domina a cena dos parques de San Francisco do verão ao outono de 66 até explodir em naquela noite em Monterey .