estava estirado na poltrona ordinária do cinema em Copacabana pela sexta vez.
tinha chegado cedo e via as figuras que passavam de um lado a outro. alguns conversavam baixo tranqüilos. a outros o lanterninha se limitava a apontar um lugar vago assim que chegavam.
o cheiro inconfundível de maconha invadiu a sala no inicio do documentário de Janis Joplin. talvez ela dissesse que seria o ar mais apropriado.
gostava particularmente de duas cenas. quando entrava no palco do festival de Monterey Pop num vestido curto, lamê solto ao corpo, mules saltinho fino, uma vasta cabeleira e o vento descobrindo o rosto.
sittin down by my window, honey/lookin out at the rain/
something come along, grabbed a hold of me/
Ball and Chain é uma performance visceral, violenta.
lhe transforma em instantes.
deixa amostra a alma nua. ocupa aquele espaço em que toda vida cabe.
treme, geme, grita, urra, bate os pés. é única e está envolvida pela serpente que veio lhe redimir dos pecados. era a maçã, a oferenda em chamas no palco. ao mundo incongruente resta ser a platéia. seu corpo santo encharcado é um templo, a casa habitada do blues.
o último dia daquele festival de 66, marca o início da ascensão de Janis e fim da primeira grande invasão da horda hippie. conhecida como rainha da flower revolution, herdaria uma Califórnia lisérgica e milhares de alqueires verdes no céu. quando o delírio coletivo parece incontrolável e está no auge, John Lennon chega à América declarando “somos mais populares que Jesus Cristo.”
a São Francisco dos 60’s fora mãe indulgente com o movimento da contra cultura. em seus parques punhados de day-trippers dividiram sonhos durante verões e outonos.
(capa)
bastou o lançamento do primeiro album Cheap Thrills, para que a super-nova mostrasse seu brilho intenso, se consumindo rápido. é só para não correr o risco de morrer sem realizar algo de bom ela disse um dia, já como a maior de todas. pois bastou um ano para se tornar a maior estrela da América.
nos 70’s teve o mesmo tratamento que uma top model tem nos dias de hoje. podia, por direito. mas não era o que ela realmente queria. só assumiu seu posto de estrela e esta seria sua única satisfação como a rainha branca do blues.
a Vogue e a Harper’s Bazaar lhe proclamavam como o novo padrão de beleza, para a Newsweek era ela própria a novidade, a mídia especializada a idolatrava, de resto a imprensa brigava por uma declaração. com Nova York e Londres dominadas, guardava na garagem um capricho psicodélico de US$ 200 mil. um Porsche pintado com as cores do arco-íris.
beleza, dinheiro, inteligência e fama. foi alçada a condição de celebridade. novo paradigma de uma sociedade atrás de objetos de consumo. a América atônita e conservadora queria capitalizar este turbilhão de mudanças. o jeito irreverente de Janis, o impacto visual vibrante, aquela energia formidável, tudo vem bem a calhar.
tão passional e única. parece agradar a todos. em especial a Albert Grossman, maneger de Bob Dylan, a lenda viva do rock. ele vê nela a primeira mulher a se destacar, personificar o delírio coletivo da geração. a redenção para a América branca. é ela quem incorpora o blues aos 60’s. James Brown estava abrindo a socos e performances o caminho inverso, o soul sem concessões, música de negros escutada por adolescentes brancos.
o movimento hippie cultivou numa geração o contraponto à ambição materialista da sociedade capitalista. a flower revolution oferece sua versão do sonho ao alcance de todos em comunidades rurais livres, promete na volta à mãe natureza novas frentes de contato com as artes e alargam suas fronteiras até onde alcança a espiritualidade.
Janis encarna como ninguém essa ruptura com os padrões e estereótipos normais. até para a doida San Francisco ela parece uma exagerada... está no local e no momento em que as coisas aconteceram. só isso. vista como o ícone da época, a leitura é mais um engano. mas é definitiva.
grupos informais se organizavam para concertos de música ao ar livre em San Francisco e nem davam seus primeiros frutos quando Janis se chocou aos limites intolerantes do bom comportamento texano.
não em casa, onde respirava ares liberais, conhecia o prazer da leitura e tinha aprendido a pensar. mas justamente pensar era mais do que se esperava de uma boa moça texana. e depois, Janis estava com a cara cheia de espinhas, engordara na adolescência e mudara de humor. respondia, tinha a língua áspera e afiada. ela se tornara uma rebelde.
havia um único padrão aceitável. nada além era possível ou não existia dentro das visões médias e horizontes estreitos.Janis lia e lia de tudo. da filosofia às artes passando pela política. uma menina audaciosa que em sala de aula defende a integração racial, aos 12 anos. já sabia que era demais para mentes engessadas, para padrões médios.
tinha chegado cedo e via as figuras que passavam de um lado a outro. alguns conversavam baixo tranqüilos. a outros o lanterninha se limitava a apontar um lugar vago assim que chegavam.
o cheiro inconfundível de maconha invadiu a sala no inicio do documentário de Janis Joplin. talvez ela dissesse que seria o ar mais apropriado.
gostava particularmente de duas cenas. quando entrava no palco do festival de Monterey Pop num vestido curto, lamê solto ao corpo, mules saltinho fino, uma vasta cabeleira e o vento descobrindo o rosto.
sittin down by my window, honey/lookin out at the rain/
something come along, grabbed a hold of me/
Ball and Chain é uma performance visceral, violenta.
lhe transforma em instantes.
deixa amostra a alma nua. ocupa aquele espaço em que toda vida cabe.
treme, geme, grita, urra, bate os pés. é única e está envolvida pela serpente que veio lhe redimir dos pecados. era a maçã, a oferenda em chamas no palco. ao mundo incongruente resta ser a platéia. seu corpo santo encharcado é um templo, a casa habitada do blues.
o último dia daquele festival de 66, marca o início da ascensão de Janis e fim da primeira grande invasão da horda hippie. conhecida como rainha da flower revolution, herdaria uma Califórnia lisérgica e milhares de alqueires verdes no céu. quando o delírio coletivo parece incontrolável e está no auge, John Lennon chega à América declarando “somos mais populares que Jesus Cristo.”
a São Francisco dos 60’s fora mãe indulgente com o movimento da contra cultura. em seus parques punhados de day-trippers dividiram sonhos durante verões e outonos.
(capa)
bastou o lançamento do primeiro album Cheap Thrills, para que a super-nova mostrasse seu brilho intenso, se consumindo rápido. é só para não correr o risco de morrer sem realizar algo de bom ela disse um dia, já como a maior de todas. pois bastou um ano para se tornar a maior estrela da América.
nos 70’s teve o mesmo tratamento que uma top model tem nos dias de hoje. podia, por direito. mas não era o que ela realmente queria. só assumiu seu posto de estrela e esta seria sua única satisfação como a rainha branca do blues.
a Vogue e a Harper’s Bazaar lhe proclamavam como o novo padrão de beleza, para a Newsweek era ela própria a novidade, a mídia especializada a idolatrava, de resto a imprensa brigava por uma declaração. com Nova York e Londres dominadas, guardava na garagem um capricho psicodélico de US$ 200 mil. um Porsche pintado com as cores do arco-íris.
beleza, dinheiro, inteligência e fama. foi alçada a condição de celebridade. novo paradigma de uma sociedade atrás de objetos de consumo. a América atônita e conservadora queria capitalizar este turbilhão de mudanças. o jeito irreverente de Janis, o impacto visual vibrante, aquela energia formidável, tudo vem bem a calhar.
tão passional e única. parece agradar a todos. em especial a Albert Grossman, maneger de Bob Dylan, a lenda viva do rock. ele vê nela a primeira mulher a se destacar, personificar o delírio coletivo da geração. a redenção para a América branca. é ela quem incorpora o blues aos 60’s. James Brown estava abrindo a socos e performances o caminho inverso, o soul sem concessões, música de negros escutada por adolescentes brancos.
o movimento hippie cultivou numa geração o contraponto à ambição materialista da sociedade capitalista. a flower revolution oferece sua versão do sonho ao alcance de todos em comunidades rurais livres, promete na volta à mãe natureza novas frentes de contato com as artes e alargam suas fronteiras até onde alcança a espiritualidade.
Janis encarna como ninguém essa ruptura com os padrões e estereótipos normais. até para a doida San Francisco ela parece uma exagerada... está no local e no momento em que as coisas aconteceram. só isso. vista como o ícone da época, a leitura é mais um engano. mas é definitiva.
grupos informais se organizavam para concertos de música ao ar livre em San Francisco e nem davam seus primeiros frutos quando Janis se chocou aos limites intolerantes do bom comportamento texano.
não em casa, onde respirava ares liberais, conhecia o prazer da leitura e tinha aprendido a pensar. mas justamente pensar era mais do que se esperava de uma boa moça texana. e depois, Janis estava com a cara cheia de espinhas, engordara na adolescência e mudara de humor. respondia, tinha a língua áspera e afiada. ela se tornara uma rebelde.
havia um único padrão aceitável. nada além era possível ou não existia dentro das visões médias e horizontes estreitos.Janis lia e lia de tudo. da filosofia às artes passando pela política. uma menina audaciosa que em sala de aula defende a integração racial, aos 12 anos. já sabia que era demais para mentes engessadas, para padrões médios.
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